Por Andreia Azevedo
Numa das minha pesquisas em busca de notícias editoriais interessantes, para aprender, questionar, debater, etc, descobri uma notícia que relatava a edição do primeiro livro de poesia em braille. Não consegui averiguar o ano da publicação da respectiva notícia, mas posso dizer-vos que se trata de um livro de Hélder Reis, de seu nome Branco, editado pela Fundação Manuel Leão (1).
Eu pergunto-me, há editoras em Portugal a praticar edições em braille? E se sim, esses livros chegam facilmente às livrarias?
É que sinceramente, nunca vi livros em braille em livrarias, mas admito que possa ter estado distraída, ou por ventura não ter visitado muitas. Em todo o caso, centro a questão nas livrarias mais conhecidas e de maior dimensão.
Por outro lado, acredito que uma edição em braille seja muito mais dispendiosa; isso poderá ser a "desculpa" para a não edição da mesma? Ou por ter um número menor de futuros compradores?
Quer-me parecer que se investe tanto dinheiro em futilidades e em livros que não lembram nem ao menino jesus. Não seria muito mais sensato, investir em algo que permita a transmissão de cultura a qualquer ser humano, independentemente das limitações que este possa ter?
(1) "A Fundação Manuel Leão foi criada em Janeiro de 1996 pelo seu instituidor, Pe. Manuel Valente Leão. Os seus fins principais são a promoção do bem público nos domínios da educação, da cultura, da actividade artística e da acção sociocaritativa. "
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Caros amigos,
apelamos à divulgação do curso de revisão que será ministrado na e pela Booktailors.
http://blogtailors.blogspot.com/2008/02/formao-booktailors.html
um abraço
paulo ferreira.
Apenas uma achega: no site da Santa Casa de Misericórdia do Porto, há um link para o Centro Professor Albuquerque e Castro, cuja missão é produzir livros e outras publicações e materiais para cegos: http://www.scmp.pt/pagegen.asp?SYS_PAGE_ID=874858
No mesmo site é possível conhecer a história da instituição, perceber como funciona a imprensa em braille e ainda saber como se produz um livro em braille. Além disso, é possível ver o catálogo de material produzido por eles. Não sendo propriamente a Biblioteca do Congresso, para uma insituição de carácter social não deixa de ser um catálogo considerável.
Não há edição comercial de livros em braille em Portugal.
O que há são bibliotecas especializadas, as quais dispõem das suas próprias máquinas para impressão em relevo dos livros. As editoras podem (e devem) fornecer os ficheiros (em pdf, em word) a essas bibliotecas para esse tipo de transformação.
Isto vai ao arrepio da necessidade de «ter» um livro na estante, é certo, mas convém não esquecer que um livro em braille tem várias vezes o volume em papel dos seus equivalentes visuais...
Trabalhei em tempos no «único jornal académico com edição em braille do país». Isso servia, é evidente, como forma de autopromoção – um pouco à semelhança do que se terá passado com o livro de poesia que referem. Os exemplares do jornal eram distribuídos por meia dúzia de bibliotecas especializadas no país. Um dos meus co-directores (oh, o visionário) queria ir mais longe, enviando uma cópia para todas as cátedras de estudos portugueses espalhadas pelo mundo. O que era ridículo, e não vou agora explicar porquê. O trabalho de impressão era feito pelo SAAD, Serviço de Apoio ao Aluno Deficiente (ou Diferente?) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Já na minha escola secundária, nos Açores, havia também um gabinete que imprimia materiais de apoio aos alunos invisuais (edições em Braille para os cegos, ampliações para os amblíopes).
Assim, esse tipo de edições não passa tanto pela comercialização e pelo circuito das livrarias, como pelas bibliotecas... E hoje em dia, com a existência de periféricos para os computadores (que podem converter em braille documentos html, ou os livros do Gutenberg, por exemplo), a questão irá sendo menos relevante.
Que as editoras não saibam desta especificidade, e não saibam que podem (devem) ceder os seus originais para conversão em braille, isso é outro problema.
Posso estar errado, é evidente.
jjleiria,
obrigada pelo esclarecimento que veio confirmar uma ideia que eu tinha assim muito por alto. Já agora, por curiosidade: o jornal académico que refere era o da Faculdade de Letras? Estamos a falar de que época, mais ou menos?
Cara Madalena Silva,
O jornal «académico» era nem mais nem menos que Os Fazedores de Letras, jornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Estamos a falar de... entre 1998/99 e 2000, pelo menos. Depois, quando abandonei a direcção, continuei a ver na ficha técnica a referência a uma edição em braille efectuada pelo SAAD, mas podia ser apenas a inércia de eliminar esse dado (como outros) do copy-paste da pré-paginação. Desconheço se continua (se continuou).
E era em grande medida, volto a dizê-lo, uma forma de autopromoção mais ou menos institucional — isto porque nunca foram avaliados os índices de leitura da coisa.
Já o SAAD... era um serviço que funcionava junto ao Departamento de Clássicas, acarinhado e apadrinhado penso que pelo professor Victor Jabouille, e sob a dependência directa da Reitoria da Universidade de Lisboa, que prestava apoio a alunos das faculdades de toda a universidade e não apenas da Faculdade de Letras. E que, para além da impressão de documentos em braille, pedia também voluntários (se bem me lembro, pagos) para a gravação de audiolivros. Uma vez mais, desconheço se continua, se continuou.
Caro JJLeiria:
obrigada pelo esclarecimento. A minha época na Faculdade de Letras é anterior, quase uma década.
Posso estar a fazer uma grande confusão mas tenho uma vaga ideia de que já na minha época exisitia esse jornal e com essa forma de autopromoção mais ou menos institucional.
O que, a ser verdade, contribuiria para acentuar esse aspecto de inércia de paginação e, se calhar, ainda anda por lá e com a mesma informação. Era engraçado descobrir isso. Estou capaz de tentar.
Mas, como lhe digo, posso estar a fazer confusão e estar a falar de outra coisa completamente diferente.
Obrigada, contudo, pela sua participação.
Madalena Silva
Enviar um comentário