Ora bem, a 9ª edição do Correntes d'escritas.
O que nos interessa? Não será certamente o que maior prazer me deu , que foram as conversas (desde literárias à nova lei do tabaco) com escritores realmente apaixonantes como Juan Carlos Mestre, um artista raro: "Dinis, el reye Don Dinis? Que nombre maravilloso!" Já agora, aproveitem para conhecer a sua arte em http://www.juancarlosmestre.com/. Porém, como já disse, não é isso que nos interessa aqui.
Primeiro gostaria de dizer que a organização do Correntes deveria ter sessões obrigatórias de exercício físico lá no hotel ou noutro lado qualquer. Os escritores, editores, jornalistas, agentes, organizadores, pierres e dinises acordam nos seus quartos, descem ao restaurante de elevador, servem-se com muita e boa comida, sentam-se, vão para o autocarro e sentam-se, vão para o Auditório Municipal e sentam-se, vão para o autocarro e sentam-se, vão para o restaurante, sentam-se e comem muito e bem, etc etc etc. Enfim, engordei 3 kilos, e julgo que os restantes também, e o Pepetela deve ter ficado com uma cara mais bolachuda.
Como já repararam, os escritores (etc.) viviam juntos. As mesas temáticas eram deveras interessantes (por exemplo, a Literatura rasga a realidade, Cada homem é uma língua, Sou do tamanho do que escrevo...), mas a magia esteve sempre no lobby do hotel, nos almoços e nos jantares. Foi lá que conversei com os simpáticos editores da Pé de Página (Paula e Rui Grácio), com o editor da Asa que me disse convictamente "edita o mau para poderes editar o bom!", ou mesmo Maria do Rosário Pedreira da Quidnovi. Andava lá também um tal de Teo-Ferrer, mas nunca cheguei a saber qual era a sua editora. Esclareci muitas dúvidas com os editores, mas saí de lá com uma enorme certeza: VOU EDITAR O QUE GOSTO, e esta certeza deve-se apenas ao facto de ter tomado consciência que os escritores (não digo que são menos ou mais interessantes que os livros) são especiais. Há uma energia muito positiva que emana dos seus corpos. São muito boa gente e quase todos humildes. E, para já, foi bom não ouvir falar de futebol nos 6 dias que lá estivémos. Acho que também falo pelo Pierre no seguinte: fizémos amizades (efeito Big-Brother). O José Emílio-Nélson (o senhor da foto) era uma constante presença. É um escritor com uma enorme obra e com um humor corrosivo e brejeiro. Lembro-me, por exemplo, quando apareceu a Susana Fortes ("escritora-tia") e proferiu um ruidoso "Olha a Cicciolina". Não nos podemos esquecer duma senhora que nos ficou no coração, a Manuela Ribeiro, organizadora do evento, assim como o outro organizador Francisco Guedes que, embora ficasse muitas vezes afónico, era sempre um prazer tentar ouvir.
Enfim, que mais dizer? Já sei, o nosso caríssimo prof.Zink fez lá muita falta, segundo várias pessoas como a Filipa Leal, o Juan Carlos Mestre, o Michael Kinder (não sei se é Kinder, mas é parecido), a Cristina Norton e a própria Manuela. Ainda estou na ressaca de um evento que juntou uma vez na mesma mesa Pierre, Dinis, Júlio Moreira, Pepetela, Onésimo Teotónio de Almeida, Isabel da Nóbrega e Ruy Duarte de Carvalho, o vencedor do prémio Correntes d'escritas. Ah! Andei a observar uma agente literária alemã. No início vi-a sorridente com o Ondjaki, depois Mia Couto, Paulina Chiziane, Pepetela... Acho que isto diz tudo.
Outra coisa que gostei no evento foram os lançamentos e podem ter a certeza que o facto de lá estar o escritor ajuda à venda. Até eu gastei dinheiro em livros só para poder ter a assinatura do autor. As edições parecem todas boas, tendo em conta o livro-objecto.
Saí do evento com uma vontade enorme em montar uma pequena editora, escrever mais e melhor, ler mais e melhor, e podem ter a certeza que quase todos sabem que este mundo literário é dinamizador das vidas colectivas, e que a sociedade chegou a um estado de alienação tal que o livro terá cada vez um papel mais importante. Ah, as pequenas editoras têm uma oportunidade única com a nova concentração editorial, mas a diferença terá que ser a sua marca.
Espero ver-vos a todos em breve. Até já. Abraços e beijinhos.
5 comentários:
Ok. Convenceram-me. Onde é que nos inscrevemos para a edição de 2009? Vou querer participar.
Tanto quanto consegui perceber, o melhor da coisa não é o programa oficial mas os contactos que se fazem à margem. Certo?
Neste contexto, deixo uma pergunta: quem vos pareceu mais acessível, do ponto de vista de estarem disponíveis para "receberem" dois estudantes no seu seio? Os portugueses, ou os de fora?
Pode parecer uma curiosidade mórbida mas eu gosto daquele ditado "diz-me com quem andas dir-te-ei quem és!" e como, noutras´áreas, é certo, já tenho participado em "eventos" onde o pessoal vai apenas para se mostrar e para que os outros vejam que eles existem, parece-me que a curiosidade se justifica.
Sim, os contactos, mas sem cinismos. Mas não consigo dizer quem é mais acessível. Há de tudo. senti é que os mais velhos adoram falar com jovens. Por exemplo, os editores, especialmente os mais velhos e experientes, viam no meu optimismo o seu próprio optimismo e os seus sonhos de juventude e aproveitavam para dar conselhos, coisa que todos gostamos de fazer, num certo sentido de poder.
Dinis
Meu caro Dinis,
ainda bem que sentiste esse despojamento de sentimentos cínicos. Fico sinceramente satisfeita. E até te digo mais: (pareço o Dupond e Dupont!)mais satisfeita fico por teres percebido esse gosto dos mais velhos em falarem com os mais jovens. Sabes o que mais me tem agradavelmente surpreendido neste Mestrado? É precisamente a oportunidade de lidar com os mais jovens! Vocês nem calculam o que se aprende convosco. Aliás, acho que quem mais desvaloriza os jovens e a "experiência" de vida dos jovens são os próprios jovens. Nós, os "mais velhos", tirando algumas excepções miseráveis de fungos geriátricos, estamos sempre prontos a adoptar aquilo que vocês nos transmitem em cada dia.
E neste caso das Correntes, o teu entusiasmo é genuinamente contagiante, acredita. Fico verdadeiramente com água na boca para numa próxima edição poder participar.
Notas à margem: 1) parabéns aos dois génios por enfim terem percebido que é no lóbi que está o ganho; 2) atenção que nem só de entusiasmo vive um motor; 3)mas estes encontros funcionam como bombas de gasolina: ficar sempre neles seria um inferno mas são necessários para re-animar a viage; 4) O Teo Ferrer é livreiro-pequeno editor de coisa portuguesa em Frankfurt; 5) deviam ter ido falar com a "jovem agente alemã"; 5) o Michael Kegler (Kinder é giro) tem um site www.novacultura.de; 6) trouxe um novo brinquedo dos EUA: um ebook reader.
RZ
Que belas caras. Feliz e airosos. Sim senhor!
Muitos autógrafos?
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