quarta-feira, 14 de maio de 2008

E VÃO QUANTAS?

Por Madalena Silva

Na sequência das novidades que a Ana Valentim nos deu na aula de ontem, sobre a última aquisição do Grupo Leya, fui à procura de notícias e opiniões e encontrei matéria fresca no Público de hoje e no LERBLOG.
E a propósito de algumas coisas que abordámos também na aula de ontem, entre marketing e senso comum, não resisto a transcrever aqui o comentário que o jornalista Luis Graça deixou no post do editorial de Francisco José Viegas sobre esta matéria.
Leiam e opinem.
"Sempre fui considerado ingénuo e idealista pelas outras pessoas. Nos últimos tempos, começaram a chamar-me pessimista. O que mudou? O mundo.
Já nem é preciso muito tempo para perceber que a concentração tem imensos perigos.
Basta atentar nos exemplos de outras áreas. Falo de uma onde estou mergulhado (num pântano, de cabeça de fora e braços no ar): o jornalismo.
A concentração não trouxe nada de bom: menos oportunidades de trabalho, trabalho precário, auto-censura a crescer, diminuição do espaço disponível para a escrita, ditadura do grafismo sobre a palavra, da urgência da hora do fecho sobre a notícia, etc.
Há dez anos escrevi sobre isto numa comunicação num congresso de jornalismo, realizado na Culturgest. Confirmaram-se as minhas previsões e o horizonte é ainda mais sombrio do que aquele que eu previra.
Quanto à concentração no mundo dos livros, a questão é muito simples: os detentores do poder financeiro percebem de livros? Amam os livros? Estão na edição para defender os livros? Sabem como conciliar os negócios com a edição?
Parece consensual que todos respondem: "Editamos para ganhar dinheiro".
Passou de moda a teoria de que se tinha de editar algum "produto" decididamente mau (mas com "mercado") para se poder editar também obras com poucos leitores, mas com valia cultural.
Reparem: se um autor consagrado se incompatibilizar com uma editora do grupo Leya é possível que edite numa outra do mesmo grupo? Isto é apenas um exemplo.
Não é o tempo da concentração editorial que permite uma autêntica "tubaranização" dos espaços disponíveis para os livros? Como é possível que montras inteiras sejam preenchidas na sua totalidade (ou quase) por um único livro? Isto é profundamente anti-democrático. Pode ser perfeitamente legal, mas é perfeitamente anti-democrático.
E as montras não são assim construídas por uma questão de bom senso. Ou por se achar que o autor é desconhecido e merece uma oportunidade. Não, as montras são assim construídas por uma questão de negócio. As montras são"compradas".
Tem alguma lógica pensar que o leitor precisa de ver 50 livros iguais numa montra para se interessar por ele?
Ao esgotar o espaço da montra, remete-se para um limbo do impossível a divulgação de outros autores.
Outra mania dos tempos da concentração é a de alterar a disposição dos livros. Cada vez mais, volta e meia está tudo mudado. Com que vantagens? Se o leitor que está habituado a ir à procura de um livro em determinado sector não conseguir encontrá-lo, o que se gera?No meu caso, frustração. Não é por andar a fazer "decoração de interiores" que se melhora a oferta dentro de uma loja.
Podem mudar à vontade a disposição dos livros. O facto é que isso apenas me afasta das livrarias. Até porque é nestes casos que geralmente se emprega uma força de trabalho que não distingue uma Margarida Rebelo Pinto de um Tolstoi, que pensa que Mário de Carvalho é brasileiro e Patrícia Melo portuguesa. Que pergunta se "Em busca do tempo perdido" é banda desenhada.
Os tempos da concentração também permitem que haja autênticas "limpezas" dos empregados mais antigos das livrarias (a par de alguns jovens altamente qualificados e raros), sendo substituídos por outros que passam a andar vestidinhos todos de igual, fardados e mentalizados para ir até ao computador encontrar a resposta a qualquer pergunta do cliente.
Há cerca de um mês pretendi esclarecer qual o horário da apresentação de um livro de Carla Maia de Almeida na "Byblos", perante a disparidade do horário que ela me fornecera e do que vinha dado à estampa no anúncio da Byblos que saiu no PÚBLICO.
Telefonando para o 12118, não consegui o número de telefone da Byblos. Não só não o consegui, como a pessoa que me atendeu desconhecia por completo a existência da livraria. Apetece dizer, como no anúncio da Renault: "Grandes para quê?".
Até agora, o que a concentração editorial anuncia é isto: negócios. Em que há livros no meio por mero acaso.
Não posso bater palmas e ficar à espera que me atirem um peixe, apesar de toda a simpatia que tenho pelas focas.
Quando um responsável por um grande grupo confunde uma citação de Camões com Eça de Queiroz, que posso esperar de relevante no que toca de apoio à Literatura?
Não pelo lapso, mas pelo sintoma."

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois...

Quem se quer juntar a mim? É que vou enriquecer a editar livros de poesia de autores desconhecidos.