Por Andreia Azevedo
E assim partiu deixando atrás de si uma chuva de cacos...
O percurso daquela noite ficou lacrado em cada ruga que lhe invade o rosto, em cada recanto da sua alma. Foi uma noite gélida e desnorteada. Pernoitou sobre a imundice, a fome e o degredo, mas mesmo assim sobreviveu. Sobreviveu e jurou mostrar ao mundo que lhe cuspia na cara, que a chuva tudo lava. Havia de deixar de ser mais do que um caixote do lixo onde os outros depositavam o esterco que acumulavam anos e anos a fio.
A juventude foi dura, mas após largos anos a trabalhar no restaurante do Sr. Manuel – para que se saiba a melhor e mais antiga espelunca de Lisboa – o nosso amigo Barata, lá conseguiu amealhar algum dinheiro e novamente cansado de tanta exploração, rumou em direcção a Coimbra, onde haveria de conhecer a sua falecida esposa.
Zulmira era uma mulher complexa. Dotada de um fanatismo religioso, a par de uma pavorosa e não menos sufocante (para quem vivia com ela) obsessão pelas limpezas, lá ia comandando a sempre escanzelada vida do pobre Barata.
Barata mais uma vez se tornara submisso a uma verdade que não era a sua, mas que o conduzia a um baixar de cabeça constante. E a promessa que havia feito, tornava-se numa recordação, já distante...
Na verdade, Barata tinha sido alfabetizado unicamente na formação da palavra sim. Palavra que utilizava numerosas vezes para com os que o rodeavam.
Até que um dia, Zulmira chega do médico com a notícia de que a família ia aumentar. Uma lágrima tímida rolou pela face do "indesejado" e o seu âmago instigou: - Aí vem o cumprimento da promessa...
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